POR NÓS


Miriane Willers

eva, maria, alzira
bertha, leolinda, celina
marielle, nilza, ana, conceição
nomes de batismo ou por opção
e tantos apelidos
louca, vadia, coisa, burra,
bruxa, incapaz
doméstica, domesticada
sempre mãe e cuidadora
por respeito e direitos
a poesia deve ser subversão

querem voz, escolhas, o mundo
trabalho e pão
sair de casa
sentir o frêmito das asas
donas do corpo e dos desejos
fazer lei, poema e caminho
um pedaço de céu e um punhado de sonhos
ser sujeito e não sujeitadas
por elas e por todas nós
a poesia precisa ser reivindicação

estão marcadas na carne e na alma
pela desigualdade
apesar da Constituição
lá está escrito: homens e mulheres são iguais
mas a lei impressa
não é a mesma da rua e de quatro paredes
na vida real, sangra discriminação
na fábrica, no lar, no parlamento
na tributação e nos orçamentos
Por elas e por mim também, a poesia precisa ser denúncia

dói a palavra bruta que rasga a alegria
o silêncio ameaçador, o tapa, o empurrão
o tiro lá no morro
calando o pedido de socorro
a faca que corta
a vida e o sossego da noite
na periferia ou na mansão
dói em todas nós
e a poesia precisa ser resistência

apesar de pactos e declarações
o maldito patriarcado
disfarçado
nos templos, palácios e favelas
ainda rouba de todas nós
mulheres
o direito de ser gente
é nessa hora que a poesia precisa ser GRITO
chega de assédio e agressão
liberdade, igualdade e dignidade
nada menos nós queremos
é por isso,
que é urgente
a poesia ser permanente
e feminista.

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Miriane Willers

E-mail: mirianew@yahoo.com.br

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